Crônicas de dois pontos - O bilhete (pt. 1-2)

- Merda, tô atrasado! E ainda vai chover! - resmunguei enquanto fechava o portão da loja.


Caminhei rapidamente para o ponto.


Felizmente, devido ao tempo nublado o ônibus estava atrasado - ''todo mundo resolveu pegar busão hoje'' - pensei aliviado.


O transporte estava cheio, com todos os assentos ocupados, porém ainda havia espaço no fundo, onde consegui me acomodar ao lado de um senhor vestido com uma blusa amarela. 


Notei que ele estava próximo demais a uma jovem, que aparentava ter mais ou menos uns 15, 16 anos, mas como não havia muito espaço mesmo, tratei aquilo como algo normal de primeira.


Mas no decorrer do percurso, aquela situação estranhamente começou a me intrigar, já que com pessoas descendo em seus pontos e abrindo assim mais lugar no local,  nada do tal homem se afastar da menina. Ela se mostrava nitidamente incomodada. O homem aproveitava o balanço do ônibus para encostar-se nela, ''encoxando''.


Pensei em intervir, mas como não sou muito inclinado a arrumar confusão e estava cansado, preferi seguir na linha do - Melhor que cada um cuide da sua própria vida. Me autoafirmando com os pensamentos: 


"Se ela não estiver mesmo confortável, ela vai sair dali, ou falar algo né?! Deve saber se defender sozinha...."


Instantes depois dessas observações, uma outra jovem, mais velha, aproximou-se dos dois e pediu licença para passar, usando de um tom levemente autoritário -' LICENÇA'.


Me pareceu que ela quis intervir e parar com aquilo que estava acontecendo, já que sua intenção  era passar especificamente no meio dos dois, pois haviam outros bancos vagos ao redor deles onde ela poderia se sentar.


O homem demorou um pouco para lhe dar passagem, contrariado, vendo que a moça não desviaria da sua direção.


A outra jovem saiu de perto do senhor e sentou-se ao lado de sua 'salvadora'. 


O senhor desceu alguns pontos depois com a mesma cara feia que passou pelo resto do trajeto.


Me senti aliviado pelo rumo que toda a situação tomou. Tudo foi resolvido, sem eu precisar fazer nada.


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